quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Neste Blogger seguem-se outros artigos do autor: Getúlio Botelho Amora.




2.3.1. Síntese da Origem e Evolução Histórica da Educação Espírita.

Neste ainda despontar do Século XXI, a humanidade está vivenciando, embora timidamente, os auspícios de uma “nova” modalidade de educação – nova no sentido de que ela tem apenas 156 anos. Trata-se, pois, da Educação Moral Espírita que se nos apresenta uma proposta renovadora de educação para a reforma íntimo-moral, para a aquisição e edificação dos valores éticos e morais do ser humano. Com efeito, vale ressaltar, todavia, que parte dessa humanidade está vivendo a época edificante da Educação Espírita, a época da educação para o Espírito encarnado. Enfim, uma boa parcela da humanidade está, deveras, vivenciando a época do “paradigma do Espírito” (INCONTRI, 2004 p. 80).
A respeito do paradigma do Espírito, a professora e escritora Dora Incontri, justifica:
O Espírito vem sendo apreendido empiricamente em toda a história da humanidade, mas a partir do século XIX passou a ser objeto de pesquisas científicas. Considerando-se que a ciência possa alcançar algum grau de segurança em suas teorias, quando confrontada com os fatos, até agora, as pesquisas realizadas desde os primórdios de Kardec, passando pela velha metapsíquica e chegando à atual parapsicologia, tem evidenciado a existência de um princípio existencial independente do corpo biológico e que pode agir por meios extrafísicos. Em alguns casos, demonstra-se que esse princípio espiritual sobrevive à morte do corpo (INCONTRI, 2004, p. 84).
Então, notório é que os fatos relativos à percepção extra-sensorial ainda não se ajustam à teoria física da ciência dos homens, a ciência materialista, aquela que Infelizmente ainda se encontra radicalizada e incrustada nos íntimos das esferas do materialismo céptico. O tempo trará a todos, com certeza, boas “novas”, retirando o véu e a catarata que oblitera a visão e a razão dos mais agnósticos e menos crédulos.
Com efeito, o nascimento da Educação Espírita ainda não se completou. Começando com Kardec, em 1857, na França, portanto, há mais de um século e meio, entretanto, ainda está se processando em nossos dias. Por esta razão, faz-se mister que todos os cristãos sintam-se convocados a participar desse tão dignificante e extraordinário acontecimento educacional e espiritual, pois, só assim é que poderemos contribuir eficazmente, cada qual à sua maneira, a seu jeito e a seu tempo, a fim de que ele possa se completar e se efetivar definitivamente e o mais rapidamente possível (PIRES, 1985).
A propósito, cada educação teve a sua época respectiva, teve a sua missão edificante, dinamizadora e facilitadora da formação dos indivíduos. É oportuno destacar que a grande missão da Educação Espírita, na época atual, é a formação moral e o desenvolvimento integral do ser humano, ou seja, a edificação de um homem novo. Nenhuma outra modalidade de educação trouxe essa proposta moral para o ser humano, visto que ela não está presa a dogmatismos tradicionais, a fanatismos, tampouco à catequização que alicia, que aliena e estigmatiza e, que não raro, tenta agir pelo convencimento (PIRES, 1985).
Em vista disso, de acordo com o autor supracitado, a Educação Clássica greco-romana formou o cidadão, o homem vinculado à cidadania e suas leis, servidor do Império; a Educação Medieval formou o cristão, o homem submisso a Cristo, portanto, sujeito e subjacente à Igreja, à autoridade desta, aos seus dogmas e aos regulamentos eclesiásticos; a Educação Renascentista formou o gentil-homem, sujeito às etiquetas e normas sociais, apegado à cultura mundana; a Educação Moderna formou o homem esclarecido, amante das Ciências e das Artes, céptico em matéria religiosa, vagamente deísta em fase de transição para o materialismo.
Enfim, a Educação Nova formou o homem psicológico dos nossos dias,  angustiado e com desejo ardente de se libertar das depressões e abatimentos morais e físicos, das amarras angustiantes e dos traumas psíquicos do passado, substituindo o confessionário pelo consultório psiquiátrico e psicanalítico, reduzindo a religião à mera convenção pragmática.
Na concepção dos educadores espíritas, a exemplo de Herculano Pires (1985); de Alves (2005a; 2005b); de Incontri (2004; 2005) dentre outros, não é mais possível educar as gerações novas seguindo os princípios e diretrizes dos modelos e modalidades anteriores de educação. Muito provavelmente originam-se daí a rebeldia, a ausência de valores, o desrespeito que cotidianamente presenciamos nas escolas e nas vias públicas. A inquietação, a excitação da juventude são reflexos da insatisfação com a ordem política, social e cultural, todas obsoletas, no estágio em que se encontram.
Daí se segue que a Educação Espírita impõe-se como exigência dos dias de hoje. Somente ela, segundo Pires (1985), reúne subsídios capazes de orientar as pessoas, mormente as crianças e adolescentes para a formação de um homem “novo”, consciente de que ele faz parte de um contexto social ao qual deve respeito e a obrigação de lhe ser útil em todos os aspectos da vida comunitária, pois pelo fato de ser membro afetivo e efetivo desse meio, por sua natureza específica, também pertence à Humanidade Cósmica e não à exiguidade dos limites da humanidade terrena.  
Segundo o autor, só a Educação Espírita poderá nos proporcionar, nesse homem “novo”, a síntese de todas as fases da evolução anterior, numa formulação superior. Isto porque o homem consciente de que essa nova Educação nos revelará, será simultaneamente o cidadão, o cristão, o gentil-homem, o homem esclarecido, portanto, receptivo a novas ideias e comportamentos e o homem psicológico, mas na conjugação, na junção de todos esses elementos numa dimensão espiritual cósmica ou universal.
A ideia apresentada aqui não tem a pretensão de convencimento ou de afirmar cegamente que toda a Humanidade deve converter-se ao Espiritismo, em absoluto! Pois este estudo é mais um despertar de consciências, um conclamar do que propriamente uma convocação. As convicções, no entanto,  anunciam a quem se dispõe a ouvir tão somente, que os princípios básicos do Espiritismo e da Educação Espírita serão as coordenadas do futuro, e por isso irão marcar o âmbito conceptual e ético da nova formação moral e educacional.
Com efeito, não foi necessário que a Humanidade toda se convertesse ao Cristianismo para que os princípios deste remodelassem o mundo! Nessa acepção, o mesmo deve acontecer com a Doutrina Espírita e sua Pedagogia. Como enfatiza o autor: “A Pedagogia Espírita – como o fez a Pedagogia Cristã – orientará a nova concepção educacional que está nascendo em nossos dias” (PIRES, 1985, p. 27).
Existe a proliferação de um pensamento de concepção bastante comum nos meios acadêmicos, que não reflete muito bem a realidade conceptiva do que seja na verdade Educação. Pois bem, quando se aborda acerca da prática da Educação em um âmbito sócio-educacional, com muita frequência, uma boa maioria espera uma receita pronta em sua plenitude e infalível, em que o suficiente é aplicá-la sistemática e mecanicamente e daí resultando um produto de burilado perfeito, a exemplo de como procedem as donas-de-casa que se utilizam de uma receita-guia quando pretendem confeccionar um bolo ou outra qualquer produção culinária do gênero.
A Educação Moral, a partir da concepção Espírita, é muito mais uma influência global de ser humano para ser humano, de Espírito para Espírito, do que propriamente a adoção de receitas e de regras específicas e infalíveis que possam ser prescritas e gerar bons resultados. O hodierno não suporta mais conviver com protótipos de educação sistematizados e orientados a partir de procedimentos e de princípios articulados por projetos rígidos e inflexíveis (INCONTRI, 2004).
O professor titular da Faculdade de Educação da Unicamp, Pedro Goergen, ao discutir em seu Artigo Educação Moral: Adestramento ou reflexão comunicativa, sobre essa temática, não diverge de Incontri quando pontua que a Educação Moral não serve para internalizar normas e regras específicas, corretas e infalíveis, mas para aprender que as normas são necessárias como parâmetros de salvaguarda de princípios mínimos de convivência humana, como o respeito à vida, à dignidade do indivíduo, o respeito ao meio ambiente, e para aprender a lidar com estes princípios em circunstâncias concretas (GOERGEN, 2001).
            Segundo o autor supracitado, não existe uma economia moral definitiva, isto é, um equilíbrio ideal entre normas e sua aplicação concreta que possa ser esterilizado do contágio da circunstancialidade e tornar-se fixo. “Normas e princípios morais são prescrições frágeis que permanentemente oferecem oportunidade para a educação” (OELKERS, 1992, p. 14. Apud GOERGEN, 2001).
Então, com efeito, a Educação Moral não pode ser interpretada como uma internalização mecânica ou literal de normas. Educação Moral é muito mais um processo de familiarização com um discurso moral a partir de princípios gerais, normatizados pelos pais e pelo exemplo destes, na sua interface com circunstâncias reais. Não é da competência da Educação Moral assumir deliberadamente um controle do mundo moral. Entendemos que a Educação Moral, como esperança renovadora, tem a tarefa concreta de restringir-se à introdução do educando no contexto dos princípios morais e nos modelos de debate, sendo que ela não dispõe de recursos ou mesmo de autoridade para impor radical e coercitivamente determinadas formas de comportamento, livres de desvios e de suas influências.
Existem alguns princípios e ideais que são exclusivos da Educação Moral Espírita que precisam ser exteriorizados neste ínterim. Pois bem, a modalidade de Educação Moral na perspectiva Espírita almeja e formula nos seus ideais uma sociedade autônoma, não uma sociedade heterônoma ou uma sociedade em estado de anomia, o que nos parece ser mais degradante ainda. A moral autônoma não admite normas tampouco regulamentos vindos do exterior a fim de coagir as pessoas a procederem corretamente em sociedade. Aí seria coerção, intimidação. As sociedades e seus atores sociais, quando em estado de autonomia não precisam de coação ou de intimidação. A lei não vem do exterior para se fazer cumprir; a lei está no interior e na consciência de cada indivíduo social.
Na moral heterônoma as regras e os deveres são vistos como externos, e são impostos coercitivamente e não como obrigações elaboradas pela consciência. Nessa hipótese, o bem é visto como o cumprimento da ordem, o certo, portanto, é a observação da regra imposta socialmente.

sábado, 17 de agosto de 2013

SÍNTESE HISTÓRICA DA MORAL A PARTIR DE MOISÉS A SANTO AGOSTINHO



Há alguns milênios, o homem vem buscando moralizar as sociedades. E a partir desse propósito, todos os esforços têm sido implementados no sentido de erradicar os males que têm levado os homens à desordem e à imoralidade corruptora. Para tanto, vêm formulando os mais distintos e variados paradigmas de ordenamento moral de princípios e de regras que sejam capazes de atender aos anseios das comunidades sociais afetadas.
Visando a tais fins, buscaram nos codificadores os subsídios necessários para a instituição de Códigos Morais, tais como o Hamurabi[1], 1750 a.C. Baseado na lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”, cujo objetivo era homogeneizar o reino juridicamente e garantir uma cultura comum. E as Leis Mosaicas, por volta de 1500 anos a.C. Numa sequência cronológica não tão rígida, apontamos os mais dignos representantes dos princípios morais, que na ordem figuram: Platão, Sócrates, Aristóteles Jesus Cristo e posteiromente, o filósofo cristão, Santo Agostinho,  numa tentativa de corrigir a conduta inadequada e amoral dos homens. Assim, abria-se o caminho para o início do processo que tinha como objetivo o princípio vital da edificação moral da sociedade.

Moral e intelectualidade, segundo o Espiritismo

Moral, segundo a visão Espírita, é o conjunto de princípios que rege a vida dos indivíduos em uma determinada sociedade. São valores adquiridos pelos homens em suas inúmeras experiências encarnatórias. A Moral sadia, portanto, é aquela que se fundamenta nos princípios da Doutrina de Jesus, que é o modelo maior de virtude que já esteve no planeta Terra. O adiantamento moral de um povo é reconhecido quando as leis que regem as sociedades são justas e as pessoas vivem e convivem de forma harmoniosa e equilibrada.
Com efeito, a intelectualidade é o crescimento do indivíduo dentro do conhecimento científico, no sentido mais amplo que se pode atribuir a esse termo. É o saber conquistado pela sua iniciativa própria e pelo seu esforço pessoal no campo das ciências de um modo geral. Teoricamente, o ser intelectualizado teria condições melhores de compreender os mecanismos das leis divinas (naturais). Entretanto, no nível evolutivo em que se encontram os homens, ditos Espíritos encarnados no Planeta Terra, frequentemente dá-se o contrário, posto que, pelo orgulho e pelo egoísmo que ainda lhes são próprios e peculiares, julgam-se doutos e sábios por si mesmos, portanto, nada atribuindo à sabedoria de Deus. Entretanto, haverá um tempo em que os homens inteligentes também serão doutos e sábios (ética e moralmente constituídos), a fim de assim poderem contribuir para um avanço mais rápido da humanidade terrestre (KARDEC, 2009).
Conforme está evidenciado, o objeto de estudo trazido à discussão neste trabalho acadêmico/científico é a Educação Moral na perspectiva da visão Espírita. Porém, independente de outras quaisquer perspectivas ou visões, falar de Educação Moral requer, a priori, um esclarecimento sobre o conceito filosófico de moral, que por sintonia e afinidade, impõe-se nos a necessidade de que também conceituemos ética, uma vez que a ética, segundo Aristóteles, (2004), é a ciência da moral. A ética é, pois, o juiz da moral. A partir dessa acepção, pode-se considerar a Ética como reflexão crítica que incide sobre o conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na sociedade em que vivem agrupados, garantindo, desse modo, o bem-estar social. Depreende-se, nesse contexto, que o ideal de toda a Filosofia é que ambas – Moral e Ética - se completem em prol da virtude e do bem comunitário.
Então, do ponto de vista meramente teórico, não há, com efeito, o que confundir a respeito dos conceitos de Ética e de Moral. A própria etimologia destes termos ajuda a diferenciá-los, uma vez que Ética procede do grego “ethos” que em si quer dizer modo de ser. A Moral, por sua vez, tem sua gênese no latim, que por outro lado, procede de “mores”, o que quer significar costumes. Daí resulta que a Moral é o conjunto de normas e procedimentos que tem por finalidade regular o comportamento dos homens em sociedade. O conjunto destas normas são assimilados e incorporados pela tradição cultural cotidiana, pela educação, começando em tenra idade. Como se depreende, a Moral é eminentemente prática, visto ter caráter normativo e obrigatório. A Moral é, pois, em si, uma virtude governada pela razão, mas não resolvida pela razão (ARISTÓTELS, 2004). 
Odennis, (2008), em seu artigo Ética e Moral, teoriza que a moral sempre existiu, uma vez que todo ser humano é dotado de um estado de consciência Moral que o orienta a fazer distinção do que é bem e do que é mal; de quem é bom e de quem é mau, a partir do contexto onde se insere comunitariamente. A Moral, segundo o autor, tem sua origem ainda no âmbito das sociedades primitivas, isto é, nas primeiras tribos. Por outro lado, a Ética teria surgido a partir das postulações socráticas. Esta, por sua vez, exige maior grau de cultura e de maturidade compreensiva. Por essa razão, a Ética, além de investigar o cumprimento normativo de um povo, explica as normas morais convencionadas por determinados grupos sociais.
A Ética, diferente da Moral, induz o homem a agir não somente por tradição, por educação ou por hábito, mas principalmente por convicção e inteligência. Por isso ela é teórica, crítica e reflexiva. A Moral, ao contrário, é eminentemente prática, e por isso exige menor grau de instrução ou evolução. Entretanto, é oportuno lembrar que uma complementa a outra.
Um exemplo evidente que justifica este argumento são os modelos ou os estágios de desenvolvimento moral em Piaget e Pestalozzi. Nesta seção serão feitas referências somente ao primeiro teórico, que apresenta três estados do desenvolvimento moral: Anomia, Heteronomia e Autonomia.  Pois bem, no estado de Heteronomia há a necessidade imperiosa da legislação normativa, que se impõe como lei a fim de obrigar o povo a cumprir a normatização em vigor. Nesse contexto, tanto a Moral - com seu caráter normativo e obrigatório - quanto a Ética – conjunto de valores - são imprescindíveis, posto que, Em parte, o povo ainda não tem consolidada na alma uma maturidade evolutiva, tampouco a plena consciência do cumprimento dos deveres ético/morais. É preciso, então, a imposição da lei para o cumprimento das normas e dos procedimentos cogitados coletivamente.
Por outro lado, no estado de Autonomia Moral – capacidade de governar a si mesmo - não há necessidade da lei para se fazer cumprir os deveres e obrigações. Autonomia pressupõe liberdade e evolução; pressupõe um estado cultural solidificado; pressupõe espírito de consciência ético/moral, ambiental, social, psicológica etc. A lei, nesse contexto social, não se faz necessária. No estado de Autonomia Moral, o povo se sente, como enfatizava o filósofo Aristóteles, detentor da excelência Moral como uma disposição da alma e não como uma emoção ou sentimento (ARISTÓTELES, 2004).
Quanto ao estado de Anomia, no capítulo II deste estudo são oportunizadas maiores referências a esse estado denominado de estado da negação da lei ou da norma, onde a anarquia reina triunfante. A propósito, o estado de Anomia retrata um quadro bem semelhante ao quadro social do Brasil de hoje.

A Moral em Moisés

Não obstante, pelo fato de a Moral sempre haver existido, como foi assinalado lá atrás, vamos limitar aqui a abrangência do nosso pensamento a 1500 anos antes de Cristo, buscando nesse longínquo passado a figura do legislador e profeta Moisés. Para efeito deste estudo, é com Moisés, que a partir de agora, vamos nos encontrar. Pois bem, o Código Moral, Os Dez Mandamentos, entregue por Deus a Moisés, traz o germe da mais ampla moral cristã. Entretanto, os comentários da Bíblia limitavam-lhe o sentido, visto que, se postos em prática naquela ocasião, em toda a sua pureza, dificilmente ela teria sido compreendida, em face do baixo grau de moralidade daqueles que seguiam Moisés. Todavia, nem por isso os Dez Mandamentos da Lei de Deus deixaram de permanecer como o pórtico frontal brilhante, tal qual um imenso farol que deveria cobrir com os seus raios cintilantes a Humanidade terrestre no caminho que deveria percorrer (KARDEC, 2009).
Para efeito deste estudo, fica convencionado que a Moral, que posteriormente veio a denominar-se de Cristã, tem o seu começo com Moisés, mormente com os Dez Mandamentos. Portanto, A Moral ensinada por Moisés, naqueles tempos, era apropriada ao estado de adiantamento no qual se encontravam os povos sob a sua orientação. Então, pelo que vimos até aqui a esse respeito, aquele povo precisava muito mais da Moral do que da própria Ética, uma vez que, conforme foi visto, a Ética está mais destinada ou adequada àqueles que possuem maior grau de evolução social, cultural e espiritual.

A Moral socrático-platônica

No tocante à Ética socrático/platônica, temos em Sócrates e Platão os precursores da ideia cristã e do Espiritismo. Portanto a ideia cristã foi pressentida vários séculos antes de Jesus e dos essênios (KARDEC, 2009).
Mediante os textos de Platão e Aristóteles, podemos afirmar que, no Ocidente, a Ética ou Filosofia Moral inicia-se com Sócrates. Para este filósofo, toda a sua Filosofia Moral indica que o conceito de Ética iria além do senso comum da sua época, nesse sentido, o corpo seria a prisão da alma, que é imutável e eterna. Assim, existiria um “bem em si” que seria próprio da sabedoria da alma e que poderia ser rememorado pelo aprendizado. Esta bondade absoluta do homem está relacionada a uma Ética e a uma Moral anteriores à experiência, pertencente à alma e que o corpo, para reconhecê-la, teria que ser purificado, dito de outra forma, teria que evoluir moralmente (ODENNIS, 2008).
Como se pode perceber, a concepção de Sócrates é puramente inatista, e com base em seus conceitos, está justificado afirmar-se que ele é um dos precursores das ideias cristãs, bem como das ideias espirituais. Sócrates em seu contexto aplica seu método de uma razão argumentativa e esgotativa para trazer à humanidade o conhecimento de si mesmo, tentando elevar e realçar no homem o bem que ele possui dentro de si. Desse modo, esse homem poderia praticar uma conduta exemplar e agir ética e moralmente dentro da coletividade social.
A partir de uma perspectiva história, das ideias éticas e morais, devemos dar precedência ao Sócrates da visão platônica, posto que foi esse Sócrates que Aristóteles distinguiu com o pai da Ética. O pensamento básico da Ética e da Moral de Sócrates resume-se nesta expressão: “basta saber o que bondade par que se seja bom” (LIMA VAZ, 2008, p. 96).
A moral socrática aponta que este filósofo defendia a identidade entre os interesses individuais e os comunitários como único caminho para a felicidade, o que implica na valorização da bondade da moderação dos apetites, na busca do conhecimento.
[...] os três temas fundamentais do ensino ético de Sócrates [...] se entrelaçam na doutrina que a historiografia usual consagrou com a marca distintiva da ética socrática; a doutrina da virtude-ciência. Recebida por  Platão e criticada por Aristóteles, ela passou a caracterizar o chamado intelectualismo moral de Sócrates, conhecido por suas consequências aparentemente paradoxais (LIMA VAZ, 2008, p. 96).
A esse respeito, Sócrates postula ainda alguns pontos que precisam ser trabalhados para a vivência desta ética, ou seja, uma melhor concepção do que é o homem interior, isto é, a alma.
Em suma, Sócrates racionaliza a Ética e preconiza uma concepção do bem e do mal e da virtude. A Ética socrático/platônica iniciou-se através de uma metodologia dialógica pela qual Sócrates, a personagem principal dos diálogos platônicos, investiga os demais personagens sobre os temas: homem interior e a virtude. Platão, reconhecidamente continuador da ética socrática, tem como ideia norteadora de seu pensamento ético, a ordem (kosmos). A ordenação é dada por sua teoria das ideias; o mundo perfeito e imutável das ideias tem efetividade enquanto um paradigma que serve como referência, como medida do mundo mutável e perfeito.
Em Platão, a Ética ganha destaque e reconhecimento na política, a partir de uma concepção metafísica, bem como da sua doutrina da alma. Portanto, a ideia norteadora do pensamento ético/moral de Platão, na qual se mesclam a significação ética e a significação metafísica, é a ideia de ordenação. É essa ideia de ordem que permite a unificação, sob a égide da Teoria das Ideias, da Ética, da Política e da Cosmologia, garantindo, desse modo, a justa medida da Areté do indivíduo e à cidade e guiando o Demiurgo (Deus) na construção de um kosmos harmonioso (LIMA VAZ, 2008) .
Enfim, com efeito, a construção dos princípios éticos e morais socrático/platônicos traz para todos os tempos, até os dias de hoje, a visualização de fazer o bem e evitar o mal para a felicidade geral dos povos.

A Moral aristotélica

Os parágrafos que se seguem reportam-se, a priori a Aristóteles. Com efeito, Foi este filósofo o primeiro a distinguir a Ética da política, centrada a primeira na ação voluntária e moral do indivíduo enquanto ser humano, e a segunda, nas vinculações deste com a comunidade. Assim como Platão, Aristóteles se refere ao homem político, social, condenado a viver na polis. Na concepção moral aristotélica, o homem deve cultivar a “justa medida”, que se constitui o compêndio das virtudes éticas e morais, pela qual são administrados os impulsos e as paixões. A justa medida se traduz em um habitus[2], constituindo-se, pois, a personalidade moral do indivíduo.
Para o filósofo, enquanto a política tem como finalidade o bem coletivo a Ética tem por finalidade o bem social. Nessa hipótese aristotélica, a Ética é uma ciência muito pouco exata, visto estar ocupada com assuntos passíveis de modificação. Nesse sentido, a Ética se dá na relação com o outro, a fim de que seja determinado o bem que caracteriza a atividade própria dos seres humanos. Na concepção da Moral aristotélica, a razão deve dirigir e regular todos os atos humanos. É a partir desse ponto de vista que consiste essencialmente a vida dita virtuosa. Para este filósofo, o fim último de uma vida virtuosa é a felicidade; é ser feliz. Nessa concepção, a felicidade consiste no correto desempenho do que lhes é peculiar ou próprio, ou seja, o uso correto da razão (LIMA VAZ, 2008).
Aristóteles, a exemplo de Platão e de Sócrates, recomendava também o hábito da temperança como a virtude quem modera apetites e paixões. Assim afirmava que o hábito é adquirido pela prática até fazer-se próprio da natureza. Frequentemente teorizava a máxima do povo grego: nada, no contexto da vida, deveria ser utilizada em demasia (LIMA VAZ, 2008); (ARISTÓTELES, 2004).
A moral aristotélica prega que uma ação é dita justa e transparente quando é semelhante àquelas praticadas pelo homem justo ou temperante; porém o homem que as pratica não é justo e temperante somente por praticá-las e sim porque as pratica tal como o fariam os homens justos e temperantes.  Partindo-se deste raciocínio, está correto, então, afirmar que é pela prática de atos justos que o homem se trona justo; é pela prática de atos temperantes, que o homem se torna temperante. Portanto, sem essa prática ninguém teria nem sequer a possibilidade de se tornar bom (ARISTÓTELS, 2004).
Para Aristóteles, um homem virtuoso é aquele que apresenta disposição às virtudes. Virtude é, pois, uma disposição a uma ação boa. O filósofo adverte que com relação às paixões, dizemos que somos movidos, mas com relação às virtudes e aos vícios não se diz somos movidos, e sim que temos essa ou aquela disposição. Em síntese, as virtudes, segundo a moral aristotélica, não são paixões nem faculdades, assim, só podem ser disposições.
Na concepção da Moral aristotélica há duas espécies de virtude:
A intelectual e a moral. A primeira deve, em grande parte, sua geração e crescimento ao ensino, e por isso requer experiência e tempo; ao passo que a virtude moral é adquirida em função do hábito, de onde o seu nome se derivou, por uma pequena modificação dessa palavra (do grego: ethos, e sua derivação ethiké). (LIVRO II, item 1, p. 40).
            Então, por ilação própria, podemos afirmar que na visão da moral aristotélica, ser feliz é usar a razão com propriedade e fazer de tal modo que isso se torne uma virtude, uma disposição da alma.
De todo o dito, torna-se evidente que nenhuma das virtudes surge em nós por natureza, uma vez que, conforme Aristóteles (2004), nada que existe por natureza pode ser alterado pelo hábito. Um exemplo bem prático desse ponto de vista é o fogo, ninguém pode fazer com que o fogo adquira o hábito de mover-se para baixo, nem qualquer coisa que por natureza tenha um protótipo de comportamento padronizado posa se deixar levar a ser habituada a comportar-se de outra forma senão àquela que já está consolidada e legitimada (ARISTÓTELES, 2004).
Enfim, não é nem por natureza nem contrariamente à natureza que as virtudes se geram em nós; antes devemos dizer que a natureza nos dá a capacidade de recebê-las, entretanto, tal capacidade só se aperfeiçoa com o hábito.
Para finalizar esta seção, apresentamos as seguintes considerações: Em todo e qualquer segmento social da vida, as nossas disposições morais nascem sempre de atividades semelhantes a elas mesmas. É, sem dúvidas, por esta razão que devemos estar sempre atentos e vigilantes para a qualidade dos atos que praticamos no nosso cotidiano, nas relações com o outro, posto que as nossas disposições morais correspondem às diferenças entre as nossas atividades. Portanto, a diferença jamais será desprezível se, desde a nossa infância, nos habituarmos desta ou daquela maneira. Esse é ponto nevrálgico da Educação Moral Espírita: educar, começando no lar, desde a tenra idade.

A Moral Cristã em Jesus

Referimo-nos, desta feita, de maneira assaz sucinta, à figura de Jesus, que foi o Espírito de maior perfeição moral que já passou pelo Planeta Terra. Jesus, na sua curta permanência neste orbe, conseguiu construir valores universais únicos, que pela profundidade e extensão significativas, modificaram os aspectos culturais, sociais, políticos e econômicos da humanidade. Na visão espírita, esse cabedal de valores éticos e morais são conceitos essenciais, e a Moral Cristá nesse contexto, tem sido o eixo norteador de sua visão de mundo e interpretação da realidade. Desta realidade que só ele conseguiu matizar, ou seja, imprimir diferentes gradações.
A partir da concepção espiritualista, entende-se que toda a emblemática do significado de Jesus encontra-se em seu exemplo de vida, exemplificando e demonstrando a viabilidade de um padrão modelar de comportamento. Foi, sem dúvida, a força de seu comportamento exemplar e único que deu significado à sua existência e não a série de mitos, interpretações e dogmas que foram agregados ao entendimento de sua mensagem. Entendemos como úteis e necessárias essas distinções, mormente do ponto de vista dos que se dizem e se professam espíritas cristãos.
Em suma, a citação evangélico-cristã a seguir resume todo o enlevo de sua moral e do seu amor incontestável pelo ser humano.
O Cristo foi o iniciador da moral mais pura e mais sublime: a Moral evangélico-cristã que deve renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que deve fazer jorrar de todos os corações humanos a caridade e o amor ao próximo, e criar entre todos os homens uma solidariedade comum; de uma moral, enfim, que deve transformar a Terra, e dela fazer uma morada para os Espíritos superiores àqueles que a habitam hoje. É a lei do progresso, à qual a Natureza está submetida, que se cumpre, e o Espiritismo é a alavanca da qual Deus se serve para fazer avançar a humanidade (KARDEC, 2009, p. 29).
  Em suma, as duas máximas a seguir, ame a Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o espírito, e ame seu próximo com a si mesmo, essa é toda a lei e todos os profetas estão contidos nela. Trate todos os homens da mesma forma que você gostaria de ser tratado.
Resumo de tudo: Jesus, enquanto cumpriu a sua missão neste orbe demonstrou ser um exemplo único de excelência moral. Em sua existência cósmica, é o caminho, a verdade, a vida em multiplicidade, diversidade e alteridade antropológica. Um padrão único de referência fundamentado na unidade da humanidade e na igualdade entre os seres humanos, e, em decorrência, no amor ao próximo, na solidariedade, na igualdade, na tolerância, na responsabilidade pessoal, na liberdade de consciência e na moral como defesa e promoção da vida. Em síntese, Jesus é padrão de comportamento aberto para auxiliar o homem na edificação de seu próprio futuro.
Enfim, Jesus é o exemplo mais evidente de comportamento moral que reflete a identidade do ser com o universo, com os habitantes deste orbe e com Deus.
A Ética e a Moral-Cristã em Santo Agostinho.

Santo Agostinho foi um importante bispo cristão e teólogo, nascido no Norte da África, em 354 d.C. E morto em 430 d.C. O referido filósofo foi um dos primeiros teólogos a tratar da moral de uma forma clara, compreensível e organizada. Na sua concepção de moral ele usou de princípios Platônicos, e foi um dos primeiros a pensar em termos como fim, último, meios, lei eterna, consciência moral. Aliás, a princípio, a moral agostiniana era teísta[3] e cristã.
Para a Moral agostiniana o fim último do homem é Deus, ou seja, o objetivo ou meta da vida humana dirige-se para Deus. As coisas criadas  devem ser usadas como meios para se chegar a esse fim último. Agostinho, numa célebre definição, diz que o pecado consiste em gozar daquilo que se deve usar e usar daquilo que se deve gozar. A virtude, então, consiste em usar das criaturas e gozar de Deus. O pecado consistiria em gozar das criaturas e usar de Deus. Para Agostinho o pecado consiste na "conversão às criaturas e aversão ao Criador". Isto é, o pecado consiste em preferir as coisas criadas ao Criador das coisas (AGOSTINHO, 1999).
 Na concepção da Moral agostiniana, o homem pode pecar porque existem muitos bens inferiores, e sua liberdade, que é projetada pelo livre arbítrio, pode escolher de maneira errada, preferindo os bens inferiores da carne, e os exclusivamente materiais, em detrimento do Bem Supremo, que é Deus. Santo Agostinho, antes de tudo, nega a realidade metafísica do mal. O mal não é ser, mas privação de ser, como a obscuridade é ausência de luz; o mal é não-ser; carência de plenitude; privação de bem. Afirma ele: “Pecar é desmoronar o próprio ser e caminhar para o nada, e também Quem caminha no sentido contrário, portanto, oposto ao Ser, caminha para o nada" (GOSTINHO, 1999, p.76
 Agostinho, em sua Moral Cristã, aceita a idéia grega de que a felicidade é o fim último do homem. Mas para este teólogo, Deus é o fim último do homem, e somente em Deus pode o homem encontrar a felicidade e a paz. O pecado seria um desvio e afastamento deste fim último. O pecado consistiria, pois, em inverter os meios e o fim último, isto é, tomar um meio como fim e o fim último como meio. O pecado, por sua vez, consiste em procurar a felicidade e a paz nas coisas criadas (MADEIRA, 2010).
Segundo o autor, a Moral, agostiniana prega que o bem moral, o ideal, a meta se expressam por meio da Lei Eterna. O homem deverá conformar sua vida a essa Lei Eterna. A característica principal da moral agostiniana é o voluntarismo, a saber, a primazia da vontade, do prático, da ação, do amor - própria do pensamento latino -, contrariamente ao primado do teorético, do conhecimento - próprio do pensamento grego. A vontade não é determinada pelo intelecto, mas precede-o. A virtude não é uma ordem de razão, não é um hábito conforme à razão, como dizia Aristóteles, mas uma ordem do amor. A felicidade está muito mais caracterizada e direcionada em amar do que em  conhecer
A vontade é livre, e pode querer o mal, pois é um ser limitado, podendo agir desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. A vontade é má quando escolhe um bem inferior de preferência ao Bem Supremo. A vontade, no entanto, não é a causa eficiente do pecado, mas causa deficiente, porquanto o mal não tem realidade metafísica. O mal e o bem só existem, porque existe a liberdade, isto é a capacidade de escolha. A natureza é decaída, isto é, é má por causa do pecado original, mas ao mesmo tempo é boa, enquanto natureza criada por Deus. A natureza é um bem no qual o mal está presente (GILSON, 2006, apud MADEIRA, 20010).
A felicidade – primeiro principio da ética, pois aqui se fala na felicidade não do ser individual, mas no ser em comunidade, pois assim prega o cristianismo -, só pode ser alcançada se as virtudes dos homens não forem propensas aos pecados carnais, capitais, e qualquer tipo de conduta que possa ser pecar contra Deus. Aqui, a ética cristã mostra-se como um fio condutor nas questões que possam ser pertinentes com relação ao que possa parecer ser erros humanos (AGOSTINHO, 1999).
Agostinho mostra nas Confissões que a moral e a ética não estão separadas apenas aos caminhos da felicidade, mas como parte da resolução do problema sobre a origem do mal – pois se Deus existe, é bom e criador de tudo que há no mundo, quem poderia ter criado o mal? Com o afastamento do pensamento maniqueísta, Agostinho propõe que o mal não pode ser outra coisa a não ser a privação do bem (AGOSTINHO, 1999).
Assim, podemos perceber que ao designar que o homem se afasta das verdades e da bondade divina para seguir caminhos que o levem a um bem próprio, ou seja, um bem que não seja coletivo, que não vise à felicidade de todos, este esta se afastando do bem. E, ao se afastar do bem, eis que surge o mal. O homem está propenso ao bem como está, da mesma forma, propenso ao mal. A única via da felicidade, segundo os princípios da moral cristã, proposta por Santo Agostinho, é a busca de Deus. O perdão pode ser alcançado por aqueles que o desejam e o buscam, pois ele próprio, em suas confissões, deseja mostrar que Deus não exclui ninguém, mas ao contrario quer receber todos aqueles que assim desejarem, mas primeiramente deve-se querer. (MADEIRA, 2010).
Santo Agostinho, como percebemos, coloca-se contra a existência de um mal metafisico e de um mal físico. Para ele apenas existe o mal moral. Aqui podemos perceber esse mau como ligado aos conceitos humanos, aos hábitos, mais diretamente à ação em si como ser na sociedade.
Em fim, pelo teor das teses morais de Santo Agostinho, o mal não pode ser criação de Deus – pois o mesmo é divino e perfeito, assim sendo, não é gerador de algo que fosse seu oposto. Agostinho vê o mal como um distanciamento da busca do bem supremo – aqui podendo-se colocar ao lado do bem aristotélico “o bem coletivo”, o “bem da coletividade” – mais propriamente “Felicidade”.
Então para finalizar esta seção, pontuamos que a influência de nossas ações estão diretamente ligadas ao conceito do mal social em si – quando optamos por deixar de lado a busca por um grande bem, um bem supremo que vise a si e a todos, para procurarmos um bem menor, cujo único beneficiado seja a si próprio – eis ai o surgimento do mal moral, tantas vezes mencionado por Santo Agostinho.
Com efeito, de todo o dito em Agostinho, podemos concluir que o mal moral surge no indivíduo quando ele se afasta do bem mais supremo, ou seja, quando através do seu livre arbítrio, ele procura se comprazer no bem próprio, num bem, na maioria das vezes, efêmero, libidinoso e desregrado; num bem egoísta, isolado do coletivo, desse modo, ele está buscando um bem unicamente individual em detrimento do bem maior que é o bem comunitário.  Daí a origem da barbárie moral que ora assola e afronta as nossas sociedades. Como vimos, em Santo Agostinho, as raízes da imoralidade são muito mais profundas, uma vez que alcançam o terreno comum de uma tradição cultural que se fez violenta pela ausência de paradigmas éticos e morais que orientem os caminhos dos indivíduos sociais.
Enfim, quanto aos princípios morais e éticos, as abordagens e pontos de vista trazidos a esta síntese, a esse respeito, são, em boa parte, convergentes entre si. As exceções, todavia, estão em Aristóteles que claramente diverge do pensamento socrático-platônico, uma vez que despreza as ideias inatas, discordando daquilo que Platão e Sócrates afirmam e reafirmam, sugerindo que o corpo seria a prisão da alma, que tem propriedades e características eternas. E que por ser eterna, carrega consigo todo o patrimônio cultural (um bem em si), adquirido ou conquistado por meio das experiências passadas, que seria próprio da sabedoria dessa alma, para posterior rememoração pelo aprendizado.
Por outro lado, Aristóteles estria mais preso à razão, logo, ele afirma que todo patrimônio moral, ou seja toda virtude moral só pode ser adquirida pelo hábito. Nesse hipótese, a alma nada tem a ver com essa bagagem que é ética, que é virtude e que é moral e que é, por tudo isso, transponíveis e duráveis, é, portanto esse conjunto de saberes que vão formar o habitus da alma.






[1]Código de leis com 282 cláusulas, sec. XVIII a.C. Fonte: pt.wikipedia.org/wiki/
[2] Conjunto das disposições psíquicas transponíveis e duráveis; é quando o social torna-se psíquico, passando do exterior para o interior, formando a subjetividade (BOURDIEU, 2003); (ARISTÓTERLES, 2004).
[3] Doutrina que admite a existência de um deus pessoal, causa do mundo (FERREIRA,2000).