Há
alguns milênios, o homem vem buscando moralizar as sociedades. E a partir desse
propósito, todos os esforços têm sido implementados no sentido de erradicar os
males que têm levado os homens à desordem e à imoralidade corruptora. Para
tanto, vêm formulando os mais distintos e variados paradigmas de ordenamento
moral de princípios e de regras que sejam capazes de atender aos anseios das
comunidades sociais afetadas.
Visando
a tais fins, buscaram nos codificadores os subsídios necessários para a
instituição de Códigos Morais, tais como o Hamurabi,
1750 a.C. Baseado na lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”, cujo
objetivo era homogeneizar o reino juridicamente e garantir uma cultura comum. E
as Leis Mosaicas, por volta de 1500 anos a.C. Numa sequência cronológica não
tão rígida, apontamos os mais dignos representantes dos princípios morais, que
na ordem figuram: Platão, Sócrates, Aristóteles Jesus Cristo e posteiromente, o
filósofo cristão, Santo Agostinho, numa
tentativa de corrigir a conduta inadequada e amoral dos homens. Assim, abria-se
o caminho para o início do processo que tinha como objetivo o princípio vital da
edificação moral da sociedade.
Moral e intelectualidade,
segundo o Espiritismo
Moral,
segundo a visão Espírita, é o conjunto de princípios que rege a vida dos
indivíduos em uma determinada sociedade. São valores adquiridos pelos homens em
suas inúmeras experiências encarnatórias. A Moral sadia, portanto, é aquela que
se fundamenta nos princípios da Doutrina de Jesus, que é o modelo maior de
virtude que já esteve no planeta Terra. O adiantamento moral de um povo é
reconhecido quando as leis que regem as sociedades são justas e as pessoas
vivem e convivem de forma harmoniosa e equilibrada.
Com
efeito, a intelectualidade é o crescimento do indivíduo dentro do conhecimento
científico, no sentido mais amplo que se pode atribuir a esse termo. É o saber
conquistado pela sua iniciativa própria e pelo seu esforço pessoal no campo das
ciências de um modo geral. Teoricamente, o ser intelectualizado teria condições
melhores de compreender os mecanismos das leis divinas (naturais). Entretanto,
no nível evolutivo em que se encontram os homens, ditos Espíritos encarnados no
Planeta Terra, frequentemente dá-se o contrário, posto que, pelo orgulho e pelo
egoísmo que ainda lhes são próprios e peculiares, julgam-se doutos e sábios por
si mesmos, portanto, nada atribuindo à sabedoria de Deus. Entretanto, haverá um
tempo em que os homens inteligentes também serão doutos e sábios (ética e
moralmente constituídos), a fim de assim poderem contribuir para um avanço mais
rápido da humanidade terrestre (KARDEC, 2009).
Conforme
está evidenciado, o objeto de estudo trazido à discussão neste trabalho
acadêmico/científico é a Educação Moral na perspectiva da visão Espírita.
Porém, independente de outras quaisquer perspectivas ou visões, falar de
Educação Moral requer, a priori, um esclarecimento sobre o conceito filosófico
de moral, que por sintonia e afinidade, impõe-se nos a necessidade de que
também conceituemos ética, uma vez que a ética, segundo Aristóteles, (2004), é
a ciência da moral. A ética é, pois, o juiz da moral. A partir dessa acepção,
pode-se considerar a Ética como reflexão crítica que incide sobre o conjunto de
valores que orientam o comportamento do homem em relação aos outros homens na
sociedade em que vivem agrupados, garantindo, desse modo, o bem-estar social.
Depreende-se, nesse contexto, que o ideal de toda a Filosofia é que ambas –
Moral e Ética - se completem em prol da virtude e do bem comunitário.
Então,
do ponto de vista meramente teórico, não há, com efeito, o que confundir a
respeito dos conceitos de Ética e de Moral. A própria etimologia destes termos
ajuda a diferenciá-los, uma vez que Ética procede do grego “ethos” que em si
quer dizer modo de ser. A Moral, por sua vez, tem sua gênese no latim, que por
outro lado, procede de “mores”, o que quer significar costumes. Daí resulta que
a Moral é o conjunto de normas e procedimentos que tem por finalidade regular o
comportamento dos homens em sociedade. O conjunto destas normas são assimilados
e incorporados pela tradição cultural cotidiana, pela educação, começando em
tenra idade. Como se depreende, a Moral é eminentemente prática, visto ter
caráter normativo e obrigatório. A Moral é, pois, em si, uma virtude governada
pela razão, mas não resolvida pela razão (ARISTÓTELS, 2004).
Odennis,
(2008), em seu artigo Ética e Moral, teoriza que a moral sempre existiu, uma
vez que todo ser humano é dotado de um estado de consciência Moral que o
orienta a fazer distinção do que é bem e do que é mal; de quem é bom e de quem
é mau, a partir do contexto onde se insere comunitariamente. A Moral, segundo o
autor, tem sua origem ainda no âmbito das sociedades primitivas, isto é, nas
primeiras tribos. Por outro lado, a Ética teria surgido a partir das postulações
socráticas. Esta, por sua vez, exige maior grau de cultura e de maturidade
compreensiva. Por essa razão, a Ética, além de investigar o cumprimento
normativo de um povo, explica as normas morais convencionadas por determinados
grupos sociais.
A
Ética, diferente da Moral, induz o homem a agir não somente por tradição, por
educação ou por hábito, mas principalmente por convicção e inteligência. Por
isso ela é teórica, crítica e reflexiva. A Moral, ao contrário, é eminentemente
prática, e por isso exige menor grau de instrução ou evolução. Entretanto, é
oportuno lembrar que uma complementa a outra.
Um
exemplo evidente que justifica este argumento são os modelos ou os estágios de
desenvolvimento moral em Piaget e Pestalozzi. Nesta seção serão feitas
referências somente ao primeiro teórico, que apresenta três estados do
desenvolvimento moral: Anomia, Heteronomia e Autonomia. Pois bem, no estado de Heteronomia há a
necessidade imperiosa da legislação normativa, que se impõe como lei a fim de
obrigar o povo a cumprir a normatização em vigor. Nesse contexto, tanto a Moral
- com seu caráter normativo e obrigatório - quanto a Ética – conjunto de
valores - são imprescindíveis, posto que, Em parte, o povo ainda não tem
consolidada na alma uma maturidade evolutiva, tampouco a plena consciência do
cumprimento dos deveres ético/morais. É preciso, então, a imposição da lei para
o cumprimento das normas e dos procedimentos cogitados coletivamente.
Por
outro lado, no estado de Autonomia Moral – capacidade de governar a si mesmo -
não há necessidade da lei para se fazer cumprir os deveres e obrigações. Autonomia
pressupõe liberdade e evolução; pressupõe um estado cultural solidificado;
pressupõe espírito de consciência ético/moral, ambiental, social, psicológica
etc. A lei, nesse contexto social, não se faz necessária. No estado de
Autonomia Moral, o povo se sente, como enfatizava o filósofo Aristóteles,
detentor da excelência Moral como uma disposição da alma e não como uma emoção
ou sentimento (ARISTÓTELES, 2004).
Quanto
ao estado de Anomia, no capítulo II deste estudo são oportunizadas maiores
referências a esse estado denominado de estado da negação da lei ou da norma,
onde a anarquia reina triunfante. A propósito, o estado de Anomia retrata um
quadro bem semelhante ao quadro social do Brasil de hoje.
A Moral em Moisés
Não
obstante, pelo fato de a Moral sempre haver existido, como foi assinalado lá
atrás, vamos limitar aqui a abrangência do nosso pensamento a 1500 anos antes
de Cristo, buscando nesse longínquo passado a figura do legislador e profeta
Moisés. Para efeito deste estudo, é com Moisés, que a partir de agora, vamos
nos encontrar. Pois bem, o Código Moral, Os Dez Mandamentos, entregue por Deus
a Moisés, traz o germe da mais ampla moral cristã. Entretanto, os comentários
da Bíblia limitavam-lhe o sentido, visto que, se postos em prática naquela
ocasião, em toda a sua pureza, dificilmente ela teria sido compreendida, em
face do baixo grau de moralidade daqueles que seguiam Moisés. Todavia, nem por
isso os Dez Mandamentos da Lei de Deus deixaram de permanecer como o pórtico
frontal brilhante, tal qual um imenso farol que deveria cobrir com os seus
raios cintilantes a Humanidade terrestre no caminho que deveria percorrer
(KARDEC, 2009).
Para
efeito deste estudo, fica convencionado que a Moral, que posteriormente veio a
denominar-se de Cristã, tem o seu começo com Moisés, mormente com os Dez Mandamentos.
Portanto, A Moral ensinada por Moisés, naqueles tempos, era apropriada ao
estado de adiantamento no qual se encontravam os povos sob a sua orientação.
Então, pelo que vimos até aqui a esse respeito, aquele povo precisava muito
mais da Moral do que da própria Ética, uma vez que, conforme foi visto, a Ética
está mais destinada ou adequada àqueles que possuem maior grau de evolução
social, cultural e espiritual.
A Moral socrático-platônica
No
tocante à Ética socrático/platônica, temos em Sócrates e Platão os precursores
da ideia cristã e do Espiritismo. Portanto a ideia cristã foi pressentida
vários séculos antes de Jesus e dos essênios (KARDEC, 2009).
Mediante
os textos de Platão e Aristóteles, podemos afirmar que, no Ocidente, a Ética ou
Filosofia Moral inicia-se com Sócrates. Para este filósofo, toda a sua
Filosofia Moral indica que o conceito de Ética iria além do senso comum da sua
época, nesse sentido, o corpo seria a prisão da alma, que é imutável e eterna.
Assim, existiria um “bem em si” que seria próprio da sabedoria da alma e que
poderia ser rememorado pelo aprendizado. Esta bondade absoluta do homem está
relacionada a uma Ética e a uma Moral anteriores à experiência, pertencente à
alma e que o corpo, para reconhecê-la, teria que ser purificado, dito de outra
forma, teria que evoluir moralmente (ODENNIS, 2008).
Como
se pode perceber, a concepção de Sócrates é puramente inatista, e com base em
seus conceitos, está justificado afirmar-se que ele é um dos precursores das ideias
cristãs, bem como das ideias espirituais. Sócrates em seu contexto aplica seu
método de uma razão argumentativa e esgotativa para trazer à humanidade o
conhecimento de si mesmo, tentando elevar e realçar no homem o bem que ele
possui dentro de si. Desse modo, esse homem poderia praticar uma conduta
exemplar e agir ética e moralmente dentro da coletividade social.
A
partir de uma perspectiva história, das ideias éticas e morais, devemos dar
precedência ao Sócrates da visão platônica, posto que foi esse Sócrates que
Aristóteles distinguiu com o pai da Ética. O pensamento básico da Ética e da
Moral de Sócrates resume-se nesta expressão: “basta saber o que bondade par que
se seja bom” (LIMA VAZ, 2008, p. 96).
A
moral socrática aponta que este filósofo defendia a identidade entre os
interesses individuais e os comunitários como único caminho para a felicidade,
o que implica na valorização da bondade da moderação dos apetites, na busca do
conhecimento.
[...]
os três temas fundamentais do ensino ético de Sócrates [...] se entrelaçam na
doutrina que a historiografia usual consagrou com a marca distintiva da ética
socrática; a doutrina da virtude-ciência. Recebida por Platão e criticada por Aristóteles, ela
passou a caracterizar o chamado intelectualismo moral de Sócrates, conhecido
por suas consequências aparentemente paradoxais (LIMA VAZ, 2008, p.
96).
A
esse respeito, Sócrates postula ainda alguns pontos que precisam ser
trabalhados para a vivência desta ética, ou seja, uma melhor concepção do que é
o homem interior, isto é, a alma.
Em
suma, Sócrates racionaliza a Ética e preconiza uma concepção do bem e do mal e
da virtude. A Ética socrático/platônica iniciou-se através de uma metodologia
dialógica pela qual Sócrates, a personagem principal dos diálogos platônicos,
investiga os demais personagens sobre os temas: homem interior e a virtude.
Platão, reconhecidamente continuador da ética socrática, tem como ideia
norteadora de seu pensamento ético, a ordem (kosmos). A ordenação é dada por
sua teoria das ideias; o mundo perfeito e imutável das ideias tem efetividade
enquanto um paradigma que serve como referência, como medida do mundo mutável e
perfeito.
Em
Platão, a Ética ganha destaque e reconhecimento na política, a partir de uma
concepção metafísica, bem como da sua doutrina da alma. Portanto, a ideia
norteadora do pensamento ético/moral de Platão, na qual se mesclam a
significação ética e a significação metafísica, é a ideia de ordenação. É essa
ideia de ordem que permite a unificação, sob a égide da Teoria das Ideias, da
Ética, da Política e da Cosmologia, garantindo, desse modo, a justa medida da
Areté do indivíduo e à cidade e guiando o Demiurgo (Deus) na construção de um
kosmos harmonioso (LIMA VAZ, 2008) .
Enfim,
com efeito, a construção dos princípios éticos e morais socrático/platônicos
traz para todos os tempos, até os dias de hoje, a visualização de fazer o bem e
evitar o mal para a felicidade geral dos povos.
A Moral aristotélica
Os
parágrafos que se seguem reportam-se, a priori a Aristóteles. Com efeito, Foi
este filósofo o primeiro a distinguir a Ética da política, centrada a primeira
na ação voluntária e moral do indivíduo enquanto ser humano, e a segunda, nas
vinculações deste com a comunidade. Assim como Platão, Aristóteles se refere ao
homem político, social, condenado a viver na polis. Na concepção moral
aristotélica, o homem deve cultivar a “justa medida”, que se constitui o
compêndio das virtudes éticas e morais, pela qual são administrados os impulsos
e as paixões. A justa medida se traduz em um habitus,
constituindo-se, pois, a personalidade moral do indivíduo.
Para
o filósofo, enquanto a política tem como finalidade o bem coletivo a Ética tem
por finalidade o bem social. Nessa hipótese aristotélica, a Ética é uma ciência
muito pouco exata, visto estar ocupada com assuntos passíveis de modificação.
Nesse sentido, a Ética se dá na relação com o outro, a fim de que seja
determinado o bem que caracteriza a atividade própria dos seres humanos. Na
concepção da Moral aristotélica, a razão deve dirigir e regular todos os atos
humanos. É a partir desse ponto de vista que consiste essencialmente a vida
dita virtuosa. Para este filósofo, o fim último de uma vida virtuosa é a
felicidade; é ser feliz. Nessa concepção, a felicidade consiste no correto
desempenho do que lhes é peculiar ou próprio, ou seja, o uso correto da razão (LIMA
VAZ, 2008).
Aristóteles,
a exemplo de Platão e de Sócrates, recomendava também o hábito da temperança
como a virtude quem modera apetites e paixões. Assim afirmava que o hábito é
adquirido pela prática até fazer-se próprio da natureza. Frequentemente
teorizava a máxima do povo grego: nada, no contexto da vida, deveria ser
utilizada em demasia (LIMA VAZ, 2008); (ARISTÓTELES, 2004).
A
moral aristotélica prega que uma ação é dita justa e transparente quando é
semelhante àquelas praticadas pelo homem justo ou temperante; porém o homem que
as pratica não é justo e temperante somente por praticá-las e sim porque as
pratica tal como o fariam os homens justos e temperantes. Partindo-se deste raciocínio, está correto,
então, afirmar que é pela prática de atos justos que o homem se trona justo; é
pela prática de atos temperantes, que o homem se torna temperante. Portanto,
sem essa prática ninguém teria nem sequer a possibilidade de se tornar bom
(ARISTÓTELS, 2004).
Para
Aristóteles, um homem virtuoso é aquele que apresenta disposição às virtudes. Virtude
é, pois, uma disposição a uma ação boa. O filósofo adverte que com relação às
paixões, dizemos que somos movidos, mas com relação às virtudes e aos vícios
não se diz somos movidos, e sim que temos essa ou aquela disposição. Em
síntese, as virtudes, segundo a moral aristotélica, não são paixões nem
faculdades, assim, só podem ser disposições.
Na
concepção da Moral aristotélica há duas espécies de virtude:
A
intelectual e a moral. A primeira deve, em grande parte, sua geração e
crescimento ao ensino, e por isso requer experiência e tempo; ao passo que a
virtude moral é adquirida em função do hábito, de onde o seu nome se derivou,
por uma pequena modificação dessa palavra (do grego: ethos, e sua derivação
ethiké). (LIVRO
II, item 1, p. 40).
Então, por ilação própria, podemos afirmar
que na visão da moral aristotélica, ser feliz é usar a razão com propriedade e
fazer de tal modo que isso se torne uma virtude, uma disposição da alma.
De todo
o dito, torna-se evidente que nenhuma das virtudes surge em nós por natureza,
uma vez que, conforme Aristóteles (2004), nada que existe por natureza pode ser
alterado pelo hábito. Um exemplo bem prático desse ponto de vista é o fogo,
ninguém pode fazer com que o fogo adquira o hábito de mover-se para baixo, nem
qualquer coisa que por natureza tenha um protótipo de comportamento padronizado
posa se deixar levar a ser habituada a comportar-se de outra forma senão àquela
que já está consolidada e legitimada (ARISTÓTELES, 2004).
Enfim,
não é nem por natureza nem contrariamente à natureza que as virtudes se geram
em nós; antes devemos dizer que a natureza nos dá a capacidade de recebê-las,
entretanto, tal capacidade só se aperfeiçoa com o hábito.
Para finalizar
esta seção, apresentamos as seguintes considerações: Em todo e qualquer segmento
social da vida, as nossas disposições morais nascem sempre de atividades
semelhantes a elas mesmas. É, sem dúvidas, por esta razão que devemos estar
sempre atentos e vigilantes para a qualidade dos atos que praticamos no nosso
cotidiano, nas relações com o outro, posto que as nossas disposições morais
correspondem às diferenças entre as nossas atividades. Portanto, a diferença
jamais será desprezível se, desde a nossa infância, nos habituarmos desta ou
daquela maneira. Esse é ponto nevrálgico da Educação Moral Espírita: educar,
começando no lar, desde a tenra idade.
A Moral Cristã em
Jesus
Referimo-nos,
desta feita, de maneira assaz sucinta, à figura de Jesus, que foi o Espírito de
maior perfeição moral que já passou pelo Planeta Terra. Jesus, na sua curta
permanência neste orbe, conseguiu construir valores universais únicos, que pela
profundidade e extensão significativas, modificaram os aspectos culturais, sociais,
políticos e econômicos da humanidade. Na visão espírita, esse cabedal de
valores éticos e morais são conceitos essenciais, e a Moral Cristá nesse
contexto, tem sido o eixo norteador de sua visão de mundo e interpretação da
realidade. Desta realidade que só ele conseguiu matizar, ou seja, imprimir
diferentes gradações.
A
partir da concepção espiritualista, entende-se que toda a emblemática do
significado de Jesus encontra-se em seu exemplo de vida, exemplificando e
demonstrando a viabilidade de um padrão modelar de comportamento. Foi, sem
dúvida, a força de seu comportamento exemplar e único que deu significado à sua
existência e não a série de mitos, interpretações e dogmas que foram agregados
ao entendimento de sua mensagem. Entendemos como úteis e necessárias essas
distinções, mormente do ponto de vista dos que se dizem e se professam
espíritas cristãos.
Em
suma, a citação evangélico-cristã a seguir resume todo o enlevo de sua moral e
do seu amor incontestável pelo ser humano.
O
Cristo foi o iniciador da moral mais pura e mais sublime: a Moral evangélico-cristã
que deve renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que deve
fazer jorrar de todos os corações humanos a caridade e o amor ao próximo, e
criar entre todos os homens uma solidariedade comum; de uma moral, enfim, que
deve transformar a Terra, e dela fazer uma morada para os Espíritos superiores
àqueles que a habitam hoje. É a lei do progresso, à qual a Natureza está
submetida, que se cumpre, e o Espiritismo é a alavanca da qual Deus se serve
para fazer avançar a humanidade (KARDEC, 2009, p. 29).
Em
suma, as duas máximas a seguir, ame a Deus de todo o seu coração, de toda a sua
alma e de todo o espírito, e ame seu próximo com a si mesmo, essa é toda a lei
e todos os profetas estão contidos nela. Trate todos os homens da mesma forma
que você gostaria de ser tratado.
Resumo
de tudo: Jesus, enquanto cumpriu a sua missão neste orbe demonstrou ser um
exemplo único de excelência moral. Em sua existência cósmica, é o caminho, a
verdade, a vida em multiplicidade, diversidade e alteridade antropológica. Um
padrão único de referência fundamentado na unidade da humanidade e na igualdade
entre os seres humanos, e, em decorrência, no amor ao próximo, na
solidariedade, na igualdade, na tolerância, na responsabilidade pessoal, na
liberdade de consciência e na moral como defesa e promoção da vida. Em síntese,
Jesus é padrão de comportamento aberto para auxiliar o homem na edificação de
seu próprio futuro.
Enfim,
Jesus é o exemplo mais evidente de comportamento moral que reflete a identidade
do ser com o universo, com os habitantes deste orbe e com Deus.
A Ética e a Moral-Cristã
em Santo Agostinho.
Santo Agostinho foi um importante bispo cristão e
teólogo, nascido no Norte da África, em 354 d.C. E morto em 430 d.C. O referido
filósofo foi um dos primeiros teólogos a tratar da moral de uma forma clara,
compreensível e organizada. Na sua concepção de moral ele usou de princípios
Platônicos, e foi um dos primeiros a pensar em termos como fim, último, meios,
lei eterna, consciência moral. Aliás, a princípio, a moral agostiniana era
teísta e cristã.
Para a
Moral agostiniana o fim último do homem é Deus, ou seja, o objetivo ou meta da
vida humana dirige-se para Deus. As coisas criadas devem ser usadas como meios para se chegar a
esse fim último. Agostinho, numa célebre definição, diz que o pecado consiste
em gozar daquilo que se deve usar e usar daquilo que se deve gozar. A virtude,
então, consiste em usar das criaturas e gozar de Deus. O pecado consistiria em
gozar das criaturas e usar de Deus. Para Agostinho o pecado consiste na
"conversão às criaturas e aversão ao Criador". Isto é, o pecado
consiste em preferir as coisas criadas ao Criador das coisas (AGOSTINHO, 1999).
Na concepção da Moral agostiniana, o homem
pode pecar porque existem muitos bens inferiores, e sua liberdade, que é
projetada pelo livre arbítrio, pode escolher de maneira errada, preferindo os
bens inferiores da carne, e os exclusivamente materiais, em detrimento do Bem
Supremo, que é Deus. Santo Agostinho, antes de tudo, nega a realidade
metafísica do mal. O mal não é ser, mas privação de ser, como a obscuridade é
ausência de luz; o mal é não-ser; carência de plenitude; privação de bem.
Afirma ele: “Pecar é desmoronar o próprio ser e caminhar para o nada, e também
Quem caminha no sentido contrário, portanto, oposto ao Ser, caminha para o
nada" (GOSTINHO, 1999, p.76
Agostinho, em sua Moral Cristã, aceita a idéia
grega de que a felicidade é o fim último do homem. Mas para este teólogo, Deus
é o fim último do homem, e somente em Deus pode o homem encontrar a felicidade
e a paz. O pecado seria um desvio e afastamento deste fim último. O pecado
consistiria, pois, em inverter os meios e o fim último, isto é, tomar um meio
como fim e o fim último como meio. O pecado, por sua vez, consiste em procurar
a felicidade e a paz nas coisas criadas (MADEIRA, 2010).
Segundo o
autor, a Moral, agostiniana prega que o bem moral, o ideal, a meta se expressam
por meio da Lei Eterna. O homem deverá conformar sua vida a essa Lei Eterna. A
característica principal da moral agostiniana é o voluntarismo, a saber, a
primazia da vontade, do prático, da ação, do amor - própria do pensamento
latino -, contrariamente ao primado do teorético, do conhecimento - próprio do
pensamento grego. A vontade não é determinada pelo intelecto, mas precede-o. A
virtude não é uma ordem de razão, não é um hábito conforme à razão, como dizia
Aristóteles, mas uma ordem do amor. A felicidade está muito mais caracterizada
e direcionada em amar do que em conhecer
A vontade
é livre, e pode querer o mal, pois é um ser limitado, podendo agir
desordenadamente, imoralmente, contra a vontade de Deus. A vontade é má quando
escolhe um bem inferior de preferência ao Bem Supremo. A vontade, no entanto,
não é a causa eficiente do pecado, mas causa deficiente, porquanto o mal não
tem realidade metafísica. O mal e o bem só existem, porque existe a liberdade,
isto é a capacidade de escolha. A natureza é decaída, isto é, é má por causa do
pecado original, mas ao mesmo tempo é boa, enquanto natureza criada por Deus. A
natureza é um bem no qual o mal está presente (GILSON, 2006, apud MADEIRA,
20010).
A felicidade – primeiro principio
da ética, pois aqui se fala na felicidade não do ser individual, mas no ser em
comunidade, pois assim prega o cristianismo -, só pode ser alcançada se as
virtudes dos homens não forem propensas aos pecados carnais, capitais, e
qualquer tipo de conduta que possa ser pecar contra Deus. Aqui, a ética cristã
mostra-se como um fio condutor nas questões que possam ser pertinentes com
relação ao que possa parecer ser erros humanos (AGOSTINHO, 1999).
Agostinho mostra nas Confissões
que a moral e a ética não estão separadas apenas aos caminhos da felicidade,
mas como parte da resolução do problema sobre a origem do mal – pois se Deus
existe, é bom e criador de tudo que há no mundo, quem poderia ter criado o mal?
Com o afastamento do pensamento maniqueísta, Agostinho propõe que o mal não
pode ser outra coisa a não ser a privação do bem (AGOSTINHO, 1999).
Assim, podemos perceber que ao
designar que o homem se afasta das verdades e da bondade divina para seguir
caminhos que o levem a um bem próprio, ou seja, um bem que não seja coletivo,
que não vise à felicidade de todos, este esta se afastando do bem. E, ao se afastar
do bem, eis que surge o mal. O homem está propenso ao bem como está, da mesma
forma, propenso ao mal. A única via da felicidade, segundo os princípios da
moral cristã, proposta por Santo Agostinho, é a busca de Deus. O perdão pode
ser alcançado por aqueles que o desejam e o buscam, pois ele próprio, em suas
confissões, deseja mostrar que Deus não exclui ninguém, mas ao contrario quer
receber todos aqueles que assim desejarem, mas primeiramente deve-se querer.
(MADEIRA, 2010).
Santo Agostinho, como percebemos,
coloca-se contra a existência de um mal metafisico e de um mal físico. Para ele
apenas existe o mal moral. Aqui podemos perceber esse mau como ligado aos
conceitos humanos, aos hábitos, mais diretamente à ação em si como ser na
sociedade.
Em fim, pelo teor das teses
morais de Santo Agostinho, o mal não pode ser criação de Deus – pois o mesmo é
divino e perfeito, assim sendo, não é gerador de algo que fosse seu oposto.
Agostinho vê o mal como um distanciamento da busca do bem supremo – aqui podendo-se
colocar ao lado do bem aristotélico “o bem coletivo”, o “bem da coletividade” –
mais propriamente “Felicidade”.
Então para finalizar esta seção,
pontuamos que a influência de nossas ações estão diretamente ligadas ao
conceito do mal social em si – quando optamos por deixar de lado a busca por um
grande bem, um bem supremo que vise a si e a todos, para procurarmos um bem
menor, cujo único beneficiado seja a si próprio – eis ai o surgimento do mal
moral, tantas vezes mencionado por Santo Agostinho.
Com efeito, de todo o dito em
Agostinho, podemos concluir que o mal moral surge no indivíduo quando ele se
afasta do bem mais supremo, ou seja, quando através do seu livre arbítrio, ele
procura se comprazer no bem próprio, num bem, na maioria das vezes, efêmero,
libidinoso e desregrado; num bem egoísta, isolado do coletivo, desse modo, ele
está buscando um bem unicamente individual em detrimento do bem maior que é o
bem comunitário. Daí a origem da
barbárie moral que ora assola e afronta as nossas sociedades. Como vimos, em
Santo Agostinho, as raízes da imoralidade são muito mais profundas, uma vez que
alcançam o terreno comum de uma tradição cultural que se fez violenta pela
ausência de paradigmas éticos e morais que orientem os caminhos dos indivíduos
sociais.
Enfim, quanto aos princípios
morais e éticos, as abordagens e pontos de vista trazidos a esta síntese, a
esse respeito, são, em boa parte, convergentes entre si. As exceções, todavia,
estão em Aristóteles que claramente diverge do pensamento socrático-platônico,
uma vez que despreza as ideias inatas, discordando daquilo que Platão e
Sócrates afirmam e reafirmam, sugerindo que o corpo seria a prisão da alma, que
tem propriedades e características eternas. E que por ser eterna, carrega
consigo todo o patrimônio cultural (um bem em si), adquirido ou conquistado por
meio das experiências passadas, que seria próprio da sabedoria dessa alma, para
posterior rememoração pelo aprendizado.
Por outro lado, Aristóteles
estria mais preso à razão, logo, ele afirma que todo patrimônio moral, ou seja
toda virtude moral só pode ser adquirida pelo hábito. Nesse hipótese, a alma
nada tem a ver com essa bagagem que é ética, que é virtude e que é moral e que
é, por tudo isso, transponíveis e duráveis, é, portanto esse conjunto de
saberes que vão formar o habitus da alma.